"Eu estou certo que nada dá certo começando errado"

| quarta-feira, 16 de janeiro de 2013 | , , , , |


A dupla de poetas repentistas Os Nonatos cantam esse que é um dos versos da canção que termina dizendo “E a gente partiu dividindo um ‘nós’ por dois ‘eus’”. Fala de uma pessoa que diz o quanto está recuperada ao reencontrar um ex amor. Não sei se compuseram tal música baseados num caso real, num caso pessoal, mas pensemos: não é bem verdade? Quem já viu um relacionamento dar certo quando ele começa todo errado?
A menina conhece um cara que já tem alguém. Ou uma namorada, uma noiva, uma mulher ou ainda, devido a modernidade, pode até ter um outro cara (vai saber) mas mesmo assim encara a parada. E lá vai ela se contentar com poucos momentos em que a titular dá uma folga. Lá vai ela entrar numa fria achando que um dia vai sair dessa gelada. Lá vai ela inventar mil desculpas pra justificar pras amigas mais conscientes o porquê do namorado sempre faltar aos eventos em que a turma toda se encontra no sábado à noite e o “namorado” nunca pode (e nem poderá) ir. E as noites de Natal? Ano Novo? Almoço da Sexta-feira Santa? Não tem santo que faça ele conseguir inventar uma desculpa, um futebol com os amigos ou uma reunião de trabalho em dias assim pra poder fazer as vezes de namorado normal. E haja tristeza e constrangimento (dela, claro). E haja prometer-se que vai dar um fim nisso, que não nasceu pra ser a outra, que merece algo melhor. Mas basta o Don Juan (que na maioria das vezes nem chega perto de ter esse dom) aparecer, dar uns beijos, uns abraços, um presente, pagar a mensalidade da academia, faculdade, uma fatura do cartão, levar pra um restaurante (geralmente escondido, sabe como é? Daqueles que você não conhece ninguém que vá lá – ou por ser chique demais e fora da sua realidade – ou por ser fuleiro demais que nem na sua pior realidade, você já pensou em comer lá). Pois. Basta o bonito se apresentar à mulher carente com algo assim pra ela já se derreter toda e esquecer as promessas de liberdade que fez e partir pra forca invisível, mas sempre dolorida.
Conheço casos que deixariam com vergonha de ser mulher até a mais desavergonhada de nós. Mulher que se submete a se aproximar da companheira do cara, faz-se de amiga pra estar mais perto do amante; mulher que se sujeita a não ter direito nem de olhar pro amado quando o vê com a esposa, passando-se por total desconhecida, mas terminantemente proibida de ter outro alguém ou de pelo menos cogitar essa idéia; mulher que passa tanto tempo nessa que até esquece de como é ter um cara ao seu lado, tratando-a como ela merece.
Será que é por amor? Não sei. (Se tiver alguma das leitoras em algumas das situações listadas acima - ou em alguma não listada também – me escreve pelomaristelly@gmail.com e me conta o motivo). Será por amá-lo demais? Como é que consegue amar mais uma outra pessoa, que não é parte da própria vida como pai, mãe e filhos (e olhe lá!!) mais do que a si mesma? Só penso que é carência. E daquelas brabas, sabe? Dignas de serem tratadas com remédio e terapia pela necessidade de ser chamada de patologia.
Existe uma esperança entre as meninas que conheço e que estão ou estiveram nessa situação: tomar o posto da oficial. Sempre tive vontade de perguntar: Tá! Me diz aí: com quem sossego você dormiria ao lado do cara que fez isso com outra que certamente ele dizia que amava e que era a mulher da vida dele? Com quem, em muitos casos, teve até filhos e construiu uma existência? Em que momento você relaxaria e esqueceria o fantasma de “fez com ela? Fará comigo!”. Diz aí: como se vive a dois sem paz?
Conheço algumas que ainda esperam sua vez no time titular; conheço outras tantas que jogaram a toalha; conheço pouquíssimas que chegaram lá e afirmam: não recomendo. Eu também não recomendaria. Viver já é difícil, viver sofrendo deve ser muito mais. Voltando à canção título desse texto, Os Nonatos cantam nela: “quem gosta por dois padece por três”. Verdade. Façam as contas: quem tá nessa situação gosta por ela e por ele; padece por ela, por ele e pela pessoa traída. Mas nunca é tarde pra sair do time onde você não terá chance. Lembre-se que vaga ocupada por quem não presta não se mostra disponível pra quem a mereça.
E, na mesma música, eles alertam: “a vida não para por causa que a gente parou”. Não para mesmo. Não para nunca. Já que a fila anda, ande em direção da sua felicidade, não da sua ruína. Não foi pra isso que você nasceu.


Por Maristelly de Vasconcelos

Pra quem quiser conhecer a música citada no texto: "Um nós por dois eus" - Os Nonatos.

Texto publicado originalmente no Blog Sem Essa de Amélia em 11 de janeiro de 2013.
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