Hora da escolha

| sábado, 23 de julho de 2016
           E é chegada a época na qual eu mais gosto de estar em uma cidade grande como São Paulo: a campanha política para Prefeito e Vereadores.



– Vai se candidatar, Maristelly? – perguntam-me.
– Nããããããão! – respondo.
– Já tem então o seu candidato a Prefeito?
– Já sim.
– Então, qual a diferença de estar em uma cidade menor ou em uma metrópole?
– Explicarei:
Na cidade pequena, tudo – tudo mesmo – que você faz remete à sua preferência por um candidato. Se você é amiga de um parente do candidato fulano, ou até mesmo do fulano em si, os seus amigos que votam no adversário lhe julgam. Se um parente seu trabalhou na prefeitura durante o governo cicrano e você diz que votará no candidato beltrano, é outra consumição no juízo.
Sem falar que partidos políticos não têm lá tanta importância nas cidades menores. O fulano, na eleição passada, foi derrotado ao disputar uma vaga na câmara pelo PDF – Partido dos Fulanos – e agora dedica todo seu amor e apreço pelas ideologias do PDC – Partido dos Coisinhos. Acreditem: ideologia é só uma palavra que não significa muita coisa na hora da filiação.
Mas o que mais me deixa satisfeita em estar longe é poder usar a roupa da cor que eu quiser.
– Como assim?
Para quem nunca acompanhou uma disputa em uma cidade cujo colégio eleitoral não tem número que renda dois turnos, isso pode parecer estranho. Mas é justamente assim que acontece: as cidades se dividem em cores pré-determinadas. A cor do logo do partido define o tom de cada candidato. Casas sinalizam sua adesão com bandeiras hasteadas em grandes mastros no telhado e adesivos em carros espalham seu voto pela cidade. E quem avisa amigo é: se o seu preferido é “do azul”, não saia de casa para ir ao mercado usando um velho vestido amarelo, pois os vizinhos já podem sair dizendo por aí que você mudou de lado.
E a coisa já foi muito mais séria. Há alguns anos, cheguei em uma cidade pernambucana bem nesta época e tinha amizade com a família de um candidato. Não vou dizer qual era esta cidade para evitar avalanches de disse-me-disse. Era a última campanha com permissão para realizarem showmício. Em uma praça da cidade, rolava o show da banda Calcinha Preta e a multidão vestia azul – e eu, eleitora de outro município, mas querendo fazer volume, também. Na outra praça, o show era do Harmonia do Samba e parecia que a cor amarela era a única que existia na Terra.
O que a bonita aqui fez?
Foi para o show da banda baiana porque era mais do meu agrado. Eu queria era quebrar tudo ao som do cavaco que insistentemente é ordenado a chorar.
E o que aconteceu?
Eu, de camiseta azul, parecia estar nua. Os amarelos me olhavam com aquelas caras que queriam dizer muita coisa, desde um “quem é essa ridícula?”, “ela não tem medo de apanhar?” até “só pode ser uma espiã do lado de lá que veio ver qual comício tem mais gente”.
Por essas – e muitas outras que um dia eu conto – é que prefiro estar aqui mesmo. Meu voto não é especulado, minha roupa não importa, não se põe bandeira no telhado e a cor das paredes da casa onde eu moro não querem, politicamente, dizer nada.
E você, qual o tom da eleição aí na sua cidade?
edit

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